Fadiga e sequelas neurológicos pós-Covid? Alimentação pode ajudar

No começo de junho, uma meta-análise publicada* no Journal of Neurology, Neurosurgery & Psychiatry revisou evidências de 215 estudos da Covid-19 para confirmar que as sequelas neurológicas são regra e não exceção em pacientes curados da Covid-19. A meta-análise relata uma ampla gama de maneiras pelas quais a Covid-19 pode afetar a saúde mental e o cérebro. “O cérebro acaba sendo um alvo fácil durante o processo de doença por diversos acontecimentos em simultâneo no corpo”, explica o Dr. Gabriel Novaes de Rezende Batistella, médico neurologista e neuro-oncologista, membro da Society for Neuro-Oncology Latin America (SNOLA). Dentre as sequelas mais comuns, estão: fadiga, sensação de falta de ar, dores musculares, cefaleia, tontura frequente, dificuldades de memória e concentração, além de insônia. Uma das formas de tratar as sequelas é melhorar os hábitos de vida, incluindo a alimentação.

“A alimentação é fundamental para a manutenção das estruturas do tecido cerebral e das funções do sistema nervoso em geral. Porque ele é composto em grande parte por ácidos graxos e a manutenção dos mesmos é fundamental para a passagem de estímulos e comunicação entre os neurônios, células do sistema nervoso que precisam de glicose como principal substrato para manter suas funções e de aminoácidos para sintetizar neurotransmissores e repor estruturas”, afirma a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).

De acordo com o médico nutrólogo e geriatra Dr. Juliano Burckhardt, médico nutrólogo, membro Titular da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) e da International Colleges for Advancement of Nutrology, o cérebro consome cerca de 25% da taxa metabólica corporal total, por isso o consumo de alimentos para um estado nutricional adequado é muito importante para seu funcionamento e a saúde mental. “Além disso, os neurotransmissores do cérebro, substâncias que atuam na interconexão entre os neurônios e atuam em nossas emoções, precisam dos nutrientes certos para serem produzidos”, afirma o médico.

De acordo com o neuro-oncologista Dr. Gabriel, pelo menos quatro motivos estão ligados ao ataque ao cérebro na doença Covid-19: a disfunção sistêmica, a disfunção do sistema renina-angiotensina, a disfunção imune e a invasão cerebral pelo próprio vírus. “Quanto à disfunção sistêmica (o corpo em sofrimento), durante a doença, o corpo pode sofrer de inúmeras formas, mas uma muito importante para os médicos e muito temida pelos pacientes é a dificuldade de oxigenação do corpo, por frequente acometimento dos pulmões! Oxigênio é um alimento insubstituível para o cérebro, então mesmo que ele não seja diretamente atacado pelo vírus, o simples fato de uma menor oxigenação já irá exigir mais trabalho do nosso cérebro”, explica o médico.

“No caso da disfunção do sistema renina-angiotensina, aqui entra uma explicação muito complexa. Hoje entendemos que o dano neste importante e natural sistema do nosso corpo gera dificuldades nos vasos (veias e artérias) na sua parte interna (endotélio), o que pode provocar dificuldades de dilatação, maiores chances de formação de trombos e outros. Aqui o cérebro também não é poupado”, destaca o neuro-oncologista. “Com relação à disfunção imune, sabemos que o corpo está inflamado (e muito). Isso acaba de certa forma ‘bombardeando’ nosso cérebro com citocinas e outros fatores pró-inflamatórios, dificultando o trabalho dos neurônios e das células que dão suporte aos neurônios. Muito possivelmente também explica algumas confusões mentais, sonolência, apatia, e até mesmo delírios. Neurologistas acreditam, também, que essa disfunção explica algumas raras doenças neurológicas, como síndrome de Guillain-Barré e outras que costumam ‘caminhar’ juntas durante o processo infeccioso”, explica.

E, por fim, no caso da invasão cerebral pelo próprio vírus, isso ocorre e parece ser comum pelos estudos de autópsia, mas, curiosamente, não parece ter relação com a gravidade da doença. “Sendo assim, mesmo que encontremos o vírus no cérebro, isso não diz que o paciente será grave, ou que irá desenvolver danos neurológicos. Aparentemente os outros mecanismos que citei mais acima são bem mais responsáveis por tudo que venha a ocorrer no cérebro”, explica o médico. No caso das sequelas, o neuro-oncologista diz que é necessário dar um suporte direcionado para qual sintoma prevaleça, e qual destes sintomas impacta mais na vida do paciente, enfatizando a importância de buscar um equilíbrio por todos os lados, como uma boa alimentação, exercício físico regular, cuidados com a mente (psicoterapias, meditação e outros) e reabilitação das funções que foram prejudicadas, como pulmão. “Isso será imprescindível, e depende quase que absolutamente do paciente, então seja proativo e cuide de você mesmo, enquanto a ciência trabalha para facilitar nossa recuperação pós Covid-19”, afirma o Dr. Gabriel.

Segundo a Dra. Marcella, muitos alimentos são condicionais para o bom funcionamento cerebral, entre eles estão: os carboidratos como cereais, pães e massas integrais, hortaliças e frutas, que devem constituir aproximadamente 50% da dieta, pois a glicose é o principal combustível energético do cérebro, portanto é fundamental manter os níveis de glicemia estáveis e em equilíbrio ideal ao longo do dia. “As castanhas do Pará, amêndoas e sementes como chia e linhaça são ricos em vitaminas, minerais e ácidos graxos ômega 3, que reduzem o estresse oxidativo e melhoram o sistema imune, protegendo contra o envelhecimento celular.

As sementes de chia e linhaça têm impactos positivos no metabolismo pela grande presença de fibras”, diz a médica nutróloga. “Os peixes de água fria, como salmão, atum, arenque, cavala, corvina e sardinha são excelentes fontes de ômega 3, portanto importantes para a função neurológica, sensibilidade cognitiva, aprendizado e comportamento. Frutas e vegetais verde escuros que são fontes de vitamina C e potentes antioxidantes protegem os neurônios dos danos oxidativos dos radicais livres”, diz a Dra. Marcella.

Segundo o Dr. Juliano Burckhardt, alguns alimentos são bons exemplos de nutrientes que devem ser consumidos. “O abacate é uma fruta rica em gorduras boas, que ajudam a reforçar a estrutura da membrana celular dos neurônios. Além disso, a vitamina E, magnésio e folato são todos nutrientes com propriedades interessantes para os neurotransmissores do cérebro”, diz o médico. “Leguminosas como feijão, lentilha, grão-de-bico e ervilha são fontes importantes de vitaminas do complexo B, fundamentais para o cérebro e a síntese de acetilcolina, neurotransmissor importante para funções de memorização”, destaca o Dr. Juliano.

No caso da água, esse líquido essencial transporta os nutrientes e executa a eliminação de substâncias tóxicas do organismo. “A desidratação pode levar a déficit cognitivo e quadros de confusão mental”, diz. O chocolate amargo com 70% de cacau também é bem-vindo. “Por meio do triptofano e da feniletilamina, este tipo de chocolate estimula a liberação de serotonina, endorfina, anandamida e teobromina, substâncias que aumentam a sensação de bem-estar e melhoram a disposição e o humor. Por fim, as oleaginosas (castanhas e nozes) são ricas em selênio, importante mineral para prevenção e tratamento de depressão e na redução do estresse”, conta o médico.

Segundo a farmacêutica Patrícia França, Gerente Científica da Biotec Dermocosméticos, os pacientes que foram infectados pela Covid-19 passaram por um quadro inflamatório e de stress oxidativo muito grande, o que significa que a necessidade por alimentos e suplementos que atuem como anti-inflamatórios e antioxidantes tornam-se necessários. “Pensando na questão neurológica, suplementos interessantes seriam os Fosfolipídeos de caviar, In.Cell, Lipo PS20 e Modulip”, destaca a farmacêutica. “O FC ORAL (Fosfolipídeo de Caviar) é rico em ômega 3, vitamina E e Astaxantina, por isso confere uma ação anti-inflamatória. A presença de DHA vetorizado em fosfatidilcolina ultrapassa a barreira hematoencefálica e auxilia na saúde neuronal e sua plasticidade”, explica. “No caso do In.Cell, há um pool de aminoácidos essenciais, lipídeos, ômega 3, microminerais e vitaminas que estão vetorizados em fosfatidilcolina, combinação importante para restabelecer a fluidez e função da membrana celular neuronal.

Quanto ao Lipo PS20, esse ativo é derivado da soja padronizado com 20% de fosfatidilserina e 20% de fosfatidilcolina, componentes importantes encontrados no cérebro. A fosfatidilserina e fosfatidilcolina são potencializadores cognitivos, também chamados de nootrópicos, que atuam otimizando o aprendizado e a memória através da funcionalidade de biomembranas e integridade do Sistema Nervoso Central. A fosfatidilserina parece modular a liberação de cortisol em situações estressantes como no pós-Covid 19”, explica. Por fim, a farmacêutica destaca que a suplementação com Modulip GC, um neuroprotetor, atua restabelecendo a secreção de Fator de Crescimento neural (FCN) e protegendo as terminações nervosas dos malefícios provocados pelo excesso de cortisol formado pela ‘tempestade inflamatória’ desencadeada pela Covid-19. “Toda suplementação deverá ser utilizada durante o tempo que o profissional da saúde que acompanha o paciente julgar necessário; normalmente é utilizado por um período de três meses até nova avaliação do profissional habilitado para prescrever e acompanhar o paciente”, finaliza a farmacêutica.

Fonte: assessoria de imprensa