Vale a pena substituir a carne animal pelas opções feitas de plantas? Novo estudo afirma que sim

As carnes feitas a partir de plantas, popularmente conhecidas como “carnes do futuro”, e os “laticínios” de origem vegetal têm ganhado cada vez mais popularidade entre aqueles que desejam reduzir o consumo de ingredientes de origem animal ou estão começando a adotar o vegetarianismo ou o veganismo como estilo de vida. “Esses produtos feitos a partir de plantas são especificamente desenvolvidos para tentar replicar o gosto, o aroma, a textura e a experiência geral de alimentos de origem animal. E, para muitas pessoas, é mais fácil optar por produtos com essas características como forma de reduzir o consumo de carnes e laticínios em vez de simplesmente abandonar toda a experiência dos alimentos de origem animal em troca de cozinhar alimentos vegetais in natura”, explica médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).

E, segundo revisão publicada no final de julho no periódico cientifico Future Foods, as carnes e laticínios feitos a partir de plantas são alternativas mais saudáveis e ambientalmente sustentáveis aos alimentos de origem animal. “Mas é necessário sempre avaliar a tabela nutricional e a lista de ingredientes de cada alimento, tomando cuidado com o excesso de conservantes e ingredientes químicos que podem trazer problemas de saúde”, pondera a médica nutróloga.

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores examinaram 43 estudos que abordavam os impactos dos alimentos à base de plantas no meio ambiente e na saúde do consumidor. Na questão ambiental, por exemplo, um dos estudos compreendidos pela revisão mostrava que produtos feitos a partir de plantas provocam níveis mais baixos de emissão de gases de efeito estufa do que os alimentos de origem animal. Outro artigo apontava que substituir 5% do consumo de carne de vaca na Alemanha por proteína de ervilha poderia reduzir a emissão de Dióxido de Carbono (CO2) em até oito milhões de toneladas por ano. “Uma das conclusões levantadas pela revisão a partir da análise dos estudos foi que, de maneira geral, a produção de alimentos à base de plantas requer menos terra para agricultura, utiliza menos água e causa menos poluição do que os alimentos de origem animal”, destaca a médica.

Já os estudos analisados pelos pesquisadores que focavam no quesito “saúde” dos alimentos feitos a partir de plantas apontavam, por exemplo, que esses produtos tendem a possuir um perfil nutricional melhor do que produtos de origem animal, principalmente com relação a gorduras saturadas, colesterol, fibras e uma variedade de outros nutrientes.

Alguns dos artigos inclusive sugeriam que carnes e laticínios de origem vegetal podem beneficiar a perda de peso e o ganho de massa muscular, além de poderem contribuir para condições específicas de saúde, incluindo controle da insulina e redução do risco de doenças cardiovasculares. “Além disso, as carnes e laticínios feitos a partir de plantas não colaboram para a resistência do organismo a antibióticos, uma crescente ameaça à saúde global associada ao consumo de alimentos de origem animal, visto que essas substâncias são comumente utilizadas na criação de aves, suínos, bovinos e peixes”, alerta a nutróloga.

E um fato curioso apontado por um dos estudos incluídos na revisão é que 90% dos consumidores de carnes e laticínios feitos de plantas são, na verdade, comedores de carne animal ou adeptos do flexitarianismo, movimento que preza pela redução do consumo de carnes e laticínios de maneira mais flexível que o vegetarianismo ou o veganismo. “Então podemos enxergar como esses produtos à base de plantas são capazes de facilitar mudanças na alimentação, reduzindo a demanda por produtos de origem animal ao apelarem para elementos fundamentais que os consumidores procuram ao consumir carnes e laticínios, como sabor, textura e experiência, além, é claro, da conveniência”, afirma a médica.

Mas os autores da revisão ressaltam que, apesar dos benefícios apresentados dos produtos feitos a partir de plantas em comparação aos alimentos de origem animal, uma série de fatores pessoais podem impactar em seus efeitos na saúde do consumidor. Além disso, destacam que a revisão tem limitações, como o fato de apenas abranger estudos em inglês e não ter sido realizada análise quantitativa com relação ao impacto desses alimentos na saúde e sustentabilidade devido a grande variedade de estudos e métodos incluídos na revisão. “Como o aumento da popularidade e oferta dos produtos à base de plantas é recente, é importante reforçar ainda que grande parte das pesquisas sobre o assunto são relativamente novas e possuem lacunas, com mais estudos sobre o tema sendo necessários”, diz a nutróloga.

Mais saudável, mas…

Na revisão, uma ressalva importante é feita: os alimentos produzidos a partir de plantas estão sendo comparados àquilo que se propõem a substituir, no caso, produtos de origem animal, mostrando-se então mais saudáveis. O que não quer dizer, no entanto, que são, de maneira generalizada, a melhor e mais saudável opção para aqueles que desejam reduzir ou eliminar o consumo de carnes e laticínios. “Muitos desses produtos produzidos a partir de plantas, especialmente as carnes, são considerados alimentos ultraprocessados, isto é, são formulações industriais fabricadas a partir de substâncias extraídas ou derivadas de outros alimentos (no caso, as plantas) e sintetizadas em laboratório (corantes, aromatizantes, conservantes e aditivos). Esse processamento é o que torna tais alimentos mais agradáveis ao paladar e similares aos produtos que se propõem a substituir, mas também é o que faz com que não sejam tão saudáveis quanto os alimentos in natura, podendo, dependendo da composição, aumentar o risco de certos problemas de saúde, como obesidade, colesterol e doenças cardiovasculares”, alerta a Dra. Marcella Garcez.

Então, é importante prestar atenção ao que você está comprando e entender como aquele produto foi fabricado e o que traz em sua composição. Mas a melhor opção para aqueles que desejam abandonar os produtos de origem animal de maneira realmente saudável é apostar nas preparações caseiras de alimentos vegetais in natura. “Alternativas à carne, as proteínas vegetais, como sementes, oleaginosas e leguminosas, incluindo feijões, ervilhas, lentilhas, grãos de bico, nozes e castanhas podem ser incluídas e combinadas em uma dieta equilibrada, variada e o mais natural possível. Para garantir todos os aminoácidos essenciais, a combinação de um cereal com um grão é o recomendado, por exemplo: feijão e arroz, ou ervilha e milho. Já para substituir leite e derivados, uma excelente opção é preparar seu próprio leite em casa a partir de alimentos como aveia, arroz e amêndoas”, aconselha a especialista.

E o futuro promete!

Os autores da revisão destacam também que, apesar dos avanços recentes, ainda há muito espaço para desenvolver e melhorar a textura, sabor e até mesmo as propriedades nutricionais dos alimentos produzidos a partir de plantas, adicionando mais aminoácidos, vitaminas e antioxidantes, por exemplo. E, com o aumento na popularidade desses alimentos e estudos comprovando suas vantagens para a saúde e ambiente, essas inovações não devem demorar para acontecer.

E as inovações para garantir uma alimentação mais saudável e sustentável não se restringem os alimentos à base de plantas, ocorrendo também com os produtos de origem animal, como é o caso da carne produzida em laboratório. “A produção de carne ‘in vitro’ a partir da multiplicação de células retiradas de animais e cultivadas em laboratório pode fazer com que, futuramente, o consumo de proteína animal seja desvinculado do abate e dos impactos ambientais. O processo necessita de uma menor quantidade de animais, tem menor emissão de gases do efeito estufa, menor consumo de água e ainda evita os maus-tratos do abate, além de, teoricamente, excluir a necessidade do uso de hormônios e antibióticos. No entanto, mimetizar a textura e o sabor da carne ainda é um grande desafio, então podemos demorar para ver esse tipo de tecnologia ser amplamente utilizada”, finaliza a Dra. Marcella Garcez.

Fonte: assessoria de imprensa