Rótulos na mira: como identificar os perigos escondidos nos industrializados infantis
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Refeições rápidas, pratinhos coloridos, caixinhas divertidas e promessas de vitaminas e minerais. Assim, à  primeira vista, os alimentos industrializados parecem grandes aliados das famílias na hora de alimentar as crianças. Mas o que vem disfarçado de praticidade pode esconder riscos reais à saúde dos pequenos.
O Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani), encomendado pelo Ministério da Saúde, traçou um panorama preocupante. Então, a pesquisa avaliou o perfil alimentar de crianças de até seis anos, entre 2019 e 2020, em 123 municípios do país. Nesse sentido, o levantamento mostrou que 80% das crianças com menos de cinco anos consomem alimentos ultraprocessados com frequência, e 25% das calorias ingeridas por elas vêm exclusivamente desse tipo de produto. Entre os pequenos de 2 a 5 anos, a proporção chega a 30%.
A pediatra Bruna de Paula (@dra.brunadepaula.pediatra), especialista em alimentação infantil, faz um alerta:

 “Os ultraprocessados podem comprometer o desenvolvimento físico e cognitivo das crianças, além de favorecer o surgimento de doenças crônicas já na infância, como obesidade, diabetes tipo 2 e hipertensão”.

Segundo a médica, o corpo e o cérebro em desenvolvimento são mais sensíveis aos excessos de açúcar, gorduras e aditivos.
“É nessa fase que os hábitos alimentares se formam. Se a criança se acostuma com sabores artificiais e intensos, pode acabar rejeitando alimentos naturais no futuro”, explica.
Bruna também observa o reflexo direto da má alimentação. “Tem sido cada vez mais comum ver crianças com colesterol alto, diabetes tipo 2, constipação, anemia, esteatose hepática (gordura no fígado) e até problemas respiratórios. Isso sem falar nos quadros de hiperatividade, baixa imunidade e dificuldade de atenção”.

E o comportamento, muda?

A resposta é sim. Dietas ricas em açúcar, corantes e aditivos afetam o comportamento das crianças de forma importante.

“Alimentos ultraprocessados podem causar oscilações no nível de energia e afetar o humor, aumentando a irritabilidade, a agitação e até a ansiedade. Já a falta de nutrientes compromete o sono e a concentração”, afirma a pediatra.

Como decifrar os rótulos?

Dessa forma, uma das maiores armadilhas está nas próprias embalagens. Afinal, a indústria utiliza estratégias de marketing que confundem os pais.
“Muitos alimentos são vendidos como ‘naturais’ ou ‘ricos em vitaminas’, mas na prática são cheios de açúcar, aditivos e ingredientes ultraprocessados”, alerta Bruna.
Segundo ela, também é preciso atenção a expressões como “zero açúcar”, “diet” ou “light”, que podem esconder adoçantes artificiais não recomendados para crianças.

Confira as dicas da Dra. Bruna para identificar os vilões:

Lista de ingredientes curta: quanto menor, melhor. Se tiver nomes estranhos ou difíceis de pronunciar, desconfie.
Açúcares disfarçados: xarope de glicose, maltodextrina, açúcar invertido ou qualquer ingrediente terminado em “ose” geralmente indicam açúcar em excesso.
Ordem dos ingredientes importa: os primeiros da lista aparecem em maior quantidade. Então, se açúcar, gordura ou sódio estão no topo, melhor deixar o produto de lado.
Evite aditivos e corantes: glutamato monossódico, benzoato de sódio, tartrazina, amarelo crepúsculo e gordura vegetal hidrogenada devem ser evitados.
Não confie apenas nos apelos do rótulo: “rico em ferro”, “sem conservantes” ou “natural” não significam que o produto seja saudável. O que importa mesmo é a lista de ingredientes.

Comer bem não precisa ser caro (nem difícil)

Muita gente acha que alimentação saudável é cara ou difícil, mas isso é um mito. “Frutas, legumes, arroz, feijão, ovos e carnes simples são a base da nutrição infantil. Dá pra montar pratos nutritivos mesmo com orçamento apertado”, afirma Bruna.
Para as famílias com pouco tempo, a dica é apostar em estratégias acessíveis:
Cozinhar porções maiores nos fins de semana e congelar;
Higienizar e cortar frutas e legumes logo após a compra;
Usar receitas simples e nutritivas com o que se tem em casa — arroz, feijão, legumes, ovos.

E para quem está começando uma reeducação alimentar, “o segredo é a consistência. Comece trocando um alimento ultraprocessado por uma versão natural, e envolva a criança nesse processo. Deixe ela ajudar a escolher e preparar os alimentos. Criar um ambiente tranquilo nas refeições, sem TV ou celular, também faz toda a diferença”, finaliza.

 

Fonte: assessoria de imprensa