Com ovos de Páscoa até 30% mais caros em 2025, o contador e especialista André Charone alerta sobre os perigos do consumo emocional e dá dicas práticas para manter o equilíbrio financeiro sem abrir mão da tradição.
Os corredores dos supermercados já estão decorados com ovos pendurados por fitas coloridas, brindes temáticos e promessas de “parcelamento sem juros”. A Páscoa, tradicionalmente associada à renovação, à reunião familiar, e claro, ao chocolate, também se tornou uma data de forte apelo comercial.
Mas em 2025, o que já era simbólico e saboroso está custando (bem) mais caro. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates (Abicab), os ovos de Páscoa estão, em média, 25% mais caros que no ano anterior. E o impacto no bolso do consumidor é ainda mais amargo quando se observa o aumento no preço do cacau, que em março bateu recordes no mercado internacional, pressionando toda a cadeia produtiva.
“Essa alta não é apenas culpa da inflação ou do câmbio”, explica o contador e especialista em finanças pessoais André Charone. “Tem também o fator emocional. Muitas pessoas usam a Páscoa como justificativa para gastar além do que podem, com a ideia de que é só uma vez por ano. Mas esse tipo de pensamento é o primeiro passo para o endividamento.”
Para quem quer manter a tradição da Páscoa, sem transformar o mês de abril em uma armadilha financeira, Charone traz cinco orientações práticas que unem racionalidade e sensibilidade.
1. Estabeleça um teto de gastos realista
A primeira dica é básica, mas frequentemente ignorada: defina o quanto você pode gastar sem comprometer o restante do orçamento mensal. “Não adianta fingir que a Páscoa não impacta. Se você vai gastar R$ 300 em presentes e chocolates, esse valor precisa sair de algum lugar, alimentação, lazer ou reserva. Sem esse planejamento, o desequilíbrio vem na fatura do cartão”, alerta Charone.
Ele também sugere que o orçamento para datas comemorativas seja planejado com antecedência, assim como se faz com o Natal. “Quem se organiza, compra antes, pesquisa mais e evita a pressão da última hora.”
2. Compare preços e desconfie da embalagem bonita
Uma das principais críticas de Charone ao mercado pascoalino é o peso da embalagem no preço final. “Um mesmo chocolate pode custar até 70% mais caro só porque foi moldado em formato de ovo e ganhou uma caixa personalizada com personagem infantil”, explica.
A dica é simples: coloque na ponta do lápis o preço por quilo de chocolate. “É comum pagar R$ 90 por um ovo de 200g, enquanto uma barra de 1kg do mesmo chocolate custa R$ 45. Ou seja, você pode comprar o dobro pagando metade.”
Ele também sugere presentear com cestas personalizadas ou montar kits com bombons, brinquedos e mensagens escritas à mão. “Tem mais valor afetivo e pode sair até três vezes mais barato.”
3. Compre por amor, não por culpa
Muitos pais e mães se veem pressionados a presentear filhos, sobrinhos, afilhados e até colegas de trabalho. “Mas dar um presente por obrigação ou por medo de parecer ‘pão-duro’ é uma armadilha emocional”, adverte Charone.
Segundo ele, a educação financeira começa com limites claros e conversas francas: “Explique à criança que ela pode escolher entre um presente simples ou um passeio especial em família. O que marca a memória dela não é a embalagem, e sim a experiência compartilhada.”
4. Cuidado com o parcelamento “sem juros”
Apesar das aparências, o famoso “em até 10x sem juros” pode ser traiçoeiro. “Muitas lojas já embutem os juros no valor final do produto. E ainda que não haja acréscimo, você compromete o fluxo de caixa dos meses seguintes, e datas como Dia das Mães e Dia dos Namorados vêm logo depois”, alerta.
A orientação de Charone é clara: “Se você não pode pagar à vista, é porque provavelmente não deveria comprar. Use o cartão com consciência e evite a tentação de ‘jogar para o mês que vem’, pois essa bola de neve cresce rápido.”
5. Transforme a crise em criatividade e até em oportunidade de renda
A alta nos preços pode ser uma chance de pensar fora da caixa. Em vez de lamentar a inflação, por que não produzir em casa? “Fazer ovos artesanais, bombons ou montar lembranças personalizadas pode ser mais barato, divertido e ainda virar uma fonte de renda extra”, sugere Charone.
Aliás, segundo levantamento do Sebrae, mais de 50 mil pequenos empreendedores apostaram na produção caseira de chocolates neste ano, um número 18% maior que em 2024. “É a prova de que dá para usar a criatividade a favor do bolso e até do empreendedorismo”, complementa o especialista.
A Páscoa pode (e deve) ser doce, mas sem excessos
Para André Charone, o maior erro do brasileiro ainda é achar que finanças são só números. “O dinheiro conversa com nossas emoções. É por isso que datas como a Páscoa mexem tanto com a gente, há tradição, afeto, memórias. Mas é justamente nesse campo emocional que o marketing atua com força total.”
O segredo, segundo ele, está no equilíbrio: “Celebrar, sim. Comemorar com quem se ama, também. Mas sem sacrificar o planejamento financeiro ou entrar no cheque especial por causa de um ovo de chocolate.”
E finaliza com uma provocação: “Chocolate é bom. Mas nada é tão doce quanto a sensação de não estar endividado.”
André Charone é contador, professor universitário, Mestre em Negócios Internacionais pela Must University (Flórida-EUA), possui MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria pela FGV (São Paulo – Brasil) e certificação internacional pela Universidade de Harvard (Massachusetts-EUA) e Disney Institute (Flórida-EUA).