Microverdes: saiba os benefícios de apostar no consumo das ‘plantas jovens’ - *Por Dra. Marcella Garcez*

Você já ouviu falar das “microverdes”? Tratam-se de hortaliças e ervas aromáticas e condimentares colhidas poucos dias após a semeadura, antes de desenvolverem folhas cotiledonares (as primeiras que se formam), quando atingem entre 5 e 10cm de comprimento. E a grande vantagem é que essas plantas têm um conteúdo nutricional igual ou superior a 40 vezes o seu equivalente adulto (vegetal maduro).

Além de possuírem um sabor mais marcante, essas “pequenas gigantes” têm maiores teores de fitoquímicos e de vitaminas. Além de minerais e também de macronutrientes, a depender de qual microverde está em pauta. As microverdes de lentilha, por exemplo, podem ser boas fontes proteicas (6g de proteína a cada 100g).

Os micronutrientes

Os micronutrientes presentes nas microverdes também merecem destaque. As microgreens de brássicas, grupo que compreende hortaliças como brócolis, rabanete e repolho, contêm fitoquímicos como indóis e flavonóides. Estes, já demonstraram, segundo pesquisas, ter função protetora contra o câncer de próstata e de mama nos estágios iniciais da doença.

Já as microverdes do repolho roxo, segundo estudos, têm ação importante na redução dos níveis de inflamação em pacientes com alto teor de gordura no fígado, o que está ligado a uma resposta inflamatória mais exacerbada.

Mas por que as microverdes concentram mais nutrientes?

Evidências mostram que as sementes secas dormentes sofrem alterações bioquímicas e nutricionais significativas (acumulação, remobilização e desintegração) uma vez iniciada a sua germinação. Esses processos resultam em uma ‘condensação’ de nutrientes nas partes comestíveis das plantas, contribuindo para o teor surpreendentemente alto de nutrientes das microverdes.

E estudos apontam as microverdes como um superalimento do futuro, pois apresentam muito mais versatilidade de cultivo do que suas formas adultas. Isso porque, apesar de serem cultivadas predominantemente em ambientes de estufa controlados, podem crescer em qualquer ambiente com temperatura (< 20 °C) e umidade estáveis. Isso traz o benefício da agricultura urbana, que oferece alimentos mais frescos e diminui o impacto das emissões de poluição na atmosfera pelo menor uso de transporte da área de cultivo à venda.

Tendência

E a tendência para o futuro é que as microverdes caseiras se tornem cada vez mais comuns. Brotar sementes e cultivar plantinhas para saladas é um hobby fácil de experimentar em casa. E assim vegetais frescos e ricos em nutrientes podem ser obtidos sob demanda, eliminando a necessidade de transporte de longa distância e reduzindo a quantidade de combustíveis fósseis consumidos na distribuição do produto. Sem contar, é claro, o altíssimo conteúdo nutricional.

Essa tendência ajudará a reduzir dois dos maiores entraves para as microverdes nos dias atuais: a dificuldade de armazenamento, pois têm um prazo de validade curto, e a rápida redução do conteúdo nutricional durante o armazenamento. De qualquer maneira, as microverdes têm o potencial de reduzir significativamente os recursos necessários para cultivar verduras, melhorar o valor nutricional da dieta humana e até mesmo moldar a moda culinária, já que ajudam a colorir e embelezar o prato.

*Dra Marcella Garcez: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo. Além disso, é membro da Sociedade Brasileira de Medicina Estética e da Sociedade Brasileira para o Estudo do Envelhecimento. Instagram: @dra.marcellagarcez