Jejum prolongado: Conheça os riscos para a saúde do jejum do Deputado Glauber Braga
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O deputado Glauber Rocha ficou mais de uma semana em greve de fome como forma de protesto à cassação de seu mandato. Segundo a assessoria do parlamentar, Glauber ingeriu apenas soro, isotônico e água e perdeu mais de 4,6 quilos. Mas, afinal, o que acontece com o organismo nesse período de jejum prolongado?
“Consideramos como jejum prolongado períodos de ausência da ingestão de alimento superiores a 72 horas. Nos jejuns prolongados, a pessoa costuma perder peso principalmente por causa da eliminação de água e da redução da massa muscular, enquanto a perda de gordura representa uma parte menor desse processo. Após cerca de 5 a 6 dias em jejum, o corpo reduz o uso de proteínas como fonte primária de energia, priorizando corpos cetônicos e ácidos graxos. Ainda assim, pode ocorrer perda de até 0,3 a 0,6 kg de massa muscular nesse período, dependendo da massa corporal inicial e reservas energéticas. O corpo poupa proteínas ao máximo, mas continua degradando aminoácidos para funções essenciais, como síntese de neurotransmissores e células imunes”, explica a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia.

Mas os riscos de jejuns prolongados, acima de 72h, vão muito além da perda de peso e massa muscular. “Os riscos incluem hiponatremia, hipocalemia, hipomagnesemia e hipofosfatemia, que se referem, respectivamente, a baixas concentrações de sódio, potássio, magnésio e fosfato no sangue. Esses quadros podem levar a ocorrência de arritmias, convulsões e morte súbita”, alerta a médica, que explica que também ocorre uma imunossupressão, com redução da produção de células T e B, linfopenia (baixa contagem de linfócitos no sangue) e diminuição de mediadores inflamatórios.

“A barreira intestinal também enfraquece, aumentando risco de infecções. Entre 5 e 10 dias de jejum, o risco de infecção grave cresce substancialmente”, pontua a médica.
Após cerca de 72h, inicia-se a fase de inanição, que pode se estender por semanas, dependendo das reservas energéticas. “Após 10 dias, o corpo já está em estado de completa inanição metabólica. O limite para sobrevivência média sem ingestão calórica, mas com hidratação, é de 30 a 60 dias, variando conforme IMC, estado de saúde e ambiente”, alerta a especialista. De acordo com a especialista, sintomas como confusão mental, sonolência excessiva, tontura, síncope, taquicardia, bradicardia, dificuldade respiratória, palidez extrema, extremidades frias, diarreia ou vômitos persistentes já são sinais que indicam que o corpo está entrando em um estado crítico e requer intervenção médica imediata.
A médica explica que após 10 dias sem comer também há um risco iminente de síndrome da realimentação ao retomar a alimentação. Por isso, quem interrompe um jejum prolongado precisa tomar alguns cuidados importantes.
“A reintrodução dos alimentos deve ser gradual, começando por líquidos com eletrólitos, com caldos claros com sódio e potássio. Após 12 a 24h, é possível adicionar alimentos de fácil digestão, como purês, frutas cozidas e arroz branco, sem gordura ou açúcar”, diz a médica, que acrescenta que é fundamental evitar carboidratos simples em grandes quantidades devido ao risco de síndrome da realimentação.
Mas a Dra. Marcella Garcez ressalta que a prática de jejuns prolongados não deve ser realizada, somente sob estrita supervisão médica, pois apresenta riscos relevantes para todos, inclusive para jejuadores habituais. “Qualquer jejum que dure mais de 72h deve ser monitorado de perto por um médico”, finaliza.

Fonte: Dra. Marcella Garcez – Médica nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo. Além disso, é membro da Sociedade Brasileira de Medicina Estética e da Sociedade Brasileira para o Estudo do Envelhecimento. Instagram: @dra.marcellagarcez