Dieta contra Covid-19: o que comer enquanto não chega a sua vez de tomar a vacina, segundo a ciência

Em mais de um ano de pandemia, a ciência já identificou ingredientes-chave presentes nos alimentos que, apesar de não substituírem os cuidados para evitar contato com o vírus, podem ajudar o seu corpo a combater a Covid-19 e até melhorar a sua resposta à vacina.

Por: Dra. Marcella Garcez, médica nutróloga

Desde o ínicio da pandemia do Covid-19 já evoluímos muitos graças a conscientização da população sobre os cuidados preventivos, o ínicio das campanhas de vacinação e o combate às fake news que glorificavam receitas caseiras e medicamentos sem eficácia. Infelizmente, ainda não sabemos quanto tempo vai demorar até que todos sejam vacinados e a pandemia se encerre. Mas a vantagem é que hoje a ciência já sabe, por exemplo, quais nutrientes podem ajudar seu corpo a ter um sistema imunológico equilibrado para combater a Covid-19 e até melhorar a sua resposta à vacina, quando for o momento. É claro que esses compostos bioativos presentes em alimentos não são garantias de que não seremos infectados. Mas eles representam uma boa medida para ajudar a manter o organismo saudável e combater o vírus. Nesse momento, a alimentação é prioridade, pois um bom hábito alimentar é um dos pilares para boas respostas imunes.

Na última conferência virtual da Fundação Britânica de Nutrição, por exemplo, cientistas de renome debateram o papel fundamental da nutrição no combate à Covid-19, que é muito importante não pela ‘resistência’ na proteção contra a doença, mas sim por melhorar a nossa ‘tolerância’, que significa uma menor carga infecciosa quando somos infectados e maior capacidade de apresentar boa resposta imunológica, com sintomas menos graves e recuperação mais rápida. É esse o papel possível da boa alimentação, principalmente de  componentes que podem otimizar a resposta imunitária ou conferir benéficos efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes. Um sistema imune forte e bem nutrido, terá mais chances de ajudar o organismo a combater o vírus de forma mais eficaz. Por outro lado, se tivermos deficiências em macro e micronutrientes, teremos também mais risco de apresentarmos sintomas severos.

Embora estes dados ainda necessitem investigação adicional, os resultados obtidos até agora são interessantes. E vale muito a pena apostar nesses 4 nutrientes abaixo:

Selênio – Um estudo alemão mostrou que os doentes que sobreviveram à Covid-19 têm níveis mais elevados de selênio – um nutriente encontrado na castanha-do-pará, peru, sardinhas, ovos e fígado – do que aqueles que morreram devido ao vírus. Outros trabalhos já demonstraram que o selênio ajuda a refinar de maneira inteligente a nossa resposta imunológica. Então, se tivermos um bom nível de selênio, os estados inflamatórios serão menos severos. Há provas de que conseguimos uma melhor proliferação dos nossos linfócitos (células de defesa do organismo, pertencentes aos leucócitos [glóbulos brancos]), o que ajuda a ativar as linhas celulares que respondem especificamente a uma infecção viral. Mas preste atenção aos excessos: muito selênio pode ser tóxico para o corpo, gerando dores de cabeça, enfraquecimento de unhas e queda capilar. A ingestão diária recomendada é de 60 microgramas por dia, mas você pode comer até 100 microgramas por dia, sem efeitos adversos, ao ingerir apenas duas castanhas-do-pará. Mais de 800 microgramas diários de selênio podem ter efeito tóxico.

Zinco – Na Espanha, que também enfrentou um surto de internações, um estudo constatou que níveis saudáveis de zinco – um mineral encontrado nas carnes, aves, mariscos e sementes – estão associados a maiores taxas de sobrevivência. Isso porque o nutriente ajuda a evitar a replicação do vírus, que tem uma camada protetora revestindo o seu material genético e, assim que chega às nossas células, deixa esse revestimento, libertando o seu material genético e assumindo o controle do metabolismo enzimático das células infectadas para se multiplicar. Mas o zinco, se estiver circulando em níveis adequados, ajuda a inibir essa libertação do revestimento viral e a enzima que permite a reprodução do material genético na célula, impedindo assim que o vírus se prolifere. Ou seja, não é uma cura, mas é uma ajuda – que pode ser extremamente necessária. Sabemos que o consumo mínimo diário de zinco é de aproximadamente sete miligramas para as mulheres e nove para os homens, podendo variar conforme a idade. Nesse caso, não temos um alimento chave para garantir a ingestão diária, sendo que o melhor é ter uma dieta rica e variada, incluindo, por exemplo, uma porção de 100g de ostras (40mg de zinco), de carne bovina (8 mg de zinco), de soja cozida (4 mg), de amêndoas e nozes (entre 3 e 4 mg de zinco), de carne de frango (3 mg de zinco), entre outras, de acordo com as preferências individuais.

Vitamina D – Um outro ensaio concluiu que 82,2% dos doentes graves hospitalizados com a Covid-19 tinham deficiência de vitamina D, que, além da alimentação, obtemos através da exposição solar e desempenha um papel crucial na imunidade geral. Sabemos, com base nos estudos sobre a gripe comum, que, com um baixo nível de vitamina D, estamos mais propensos a sofrer com infecções virais. Embora a dose recomendada seja de 15 a 20ug [microgramas] que equivalem de 600 a 800UI [unidades internacionais], se não tomarmos sol por um longo período não teremos quantidades suficientes para a manutenção dos níveis desejáveis que garantem uma função imunológica ideal. Por isso, a sugestão de consumo alimentar é de pelo menos 1.000 IU, ou 25ug. A suplementação indiscriminada de vitamina D em doses maiores, sem acompanhamento médico, não é recomendada, pois, em excesso, pode gerar efeitos tóxicos graves como insuficiência renal aguda e calcificação de vasos sanguíneos e válvulas cardíacas. Então, caso você acredite que seus níveis de Vitamina D estão abaixo do recomendado, consulte um médico, que poderá constatar ou não essa deficiência e prescrever a suplementação adequada de acordo com suas necessidades.

Probióticos – Um estudo italiano observou que os probióticos, microrganismos vivos que melhoram a saúde intestinal, reduzem a gravidade dos sintomas de Covid-19 e as taxas de mortalidade. Além disso, uma resenha em janeiro no mBio, jornal da American Society for Microbiology, examinou evidências emergentes sugerindo que a saúde intestinal deficiente afeta negativamente o prognóstico da Covid-19. Isso porque a disfunção intestinal – e seu intestino permeável associado – pode exacerbar a gravidade da infecção, permitindo que o vírus acesse, através da parede do trato digestivo, os órgãos internos. Esses órgãos são vulneráveis à infecção porque têm ACE2 – enzima conversora da angiotensina 2, uma proteína alvo do Sars-Cov-2 – na superfície. Com isso, os probióticos se tornam ainda mais importantes, pois o intestino é uma peça fundamental do nosso sistema imunológico, já que cerca de 70% das nossas células de defesa estão localizadas no revestimento intestinal e em seu redor. Vários estudos revelaram que os probióticos podem modificar a população de bactérias intestinais, conferindo-lhes um perfil mais saudável. Os probióticos também conseguem modificar células imunológicas no intestino, que podem, em seguida, migrar para outras zonas, incluindo os pulmões – e é aqui que podemos conseguir alguma proteção. Para conquistar bactérias intestinais saudáveis, vale a pena investir em um mix saudável de frutas e vegetais rico em fibras que ainda pode ser complementado com kefir, kombucha, iogurtes probióticos e suplementos.

Por fim, vale ressaltar que a ampla ligação entre um regime alimentar saudável e uma melhor resiliência a infecções não é novidade, mas o interesse em saber quais são os nutrientes que melhor poderão sustentar este efeito de tolerância do organismo vem crescendo. Afinal, a resposta imunológica do nosso organismo a qualquer vírus requer um delicado ato de equilíbrio: se a nossa resposta for muito baixa, as defesas do nosso organismo ficarão sobrecarregadas. Mas se a nossa resposta for elevada, os processos defensivos envolvidos poderão provocar danos excessivos nos tecidos e desviar os recursos de outras funções vitais, debilitando mais o nosso corpo. Felizmente, uma boa nutrição pode ajudar a otimizar esta resposta imunológica.

Mas, se essas provas nutricionais não te convencerem, saiba que uma dieta alimentar aprimorada poderá ajudá-lo também com relação à vacinação contra a Covid-19. Sabemos que, no caso de vacinas como a do vírus da gripe, o selênio e a vitamina D estão associados a fortes respostas em termos de anticorpos. Por isso, faz sentido reforçarmos a sua ingestão, preparando-nos para quando for a nossa vez de tomar a vacina.