Com alimentos mais saudáveis, nova cesta básica levanta questões quanto a desperdício e segurança alimentar

Na terça-feira (05), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou, durante reunião do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, dois decretos focados no combate à fome no Brasil. Além da regulamentação do Programa Cozinha Solidária, Lula também oficializou a composição da nova cesta básica. Assim, alinhada a padrões mais saudáveis de alimentação, agora a cesta básica deve ser composta de alimentos in natura ou minimamente processados. Já os alimentos ultraprocessados estão proibidos. “A nova cesta básica no Brasil surge com a proposta de oferecer uma variedade mais equilibrada de alimentos nutritivos. Assim, atendendo melhor às necessidades nutricionais da população. No entanto, pode haver desafios relacionados a sua implementação e viabilização”, ressalta a Dra. Marcella Garcez, médica nutróloga e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia.

Ultraprocessados

Além do veto dos alimentos ultraprocessados, a cesta básica passará a contar com dez novos grupos de alimentos:

feijões;

cereais;

raízes e tubérculos;

legumes e verduras;

frutas;

castanhas e nozes;

carnes e ovos;

leites e queijos;

açúcares,

sal,

óleos e gorduras;

e café, chá e especiarias.

Nesse sentido, de acordo com a Dra. Marcella, as vantagens dessa nova composição incluem melhorias na saúde e bem-estar, além de uma possível redução na incidência de doenças relacionadas à má alimentação e ao consumo dos alimentos ultraprocessados, particularmente as doenças crônicas não transmissíveis, como obesidade, diabetes, hipertensão arterial e síndrome metabólica. “Alimentos ultraprocessados são formulações industriais fabricadas a partir de substâncias extraídas ou derivadas de outros alimentos (sal, açúcar, óleos, proteínas e gorduras) e sintetizadas em laboratório (corantes, aromatizantes, conservantes e aditivos). No geral, são alimentos com sabor mais agradável e um grande prazo de validade, mas pobres nutricionalmente e ricos em calorias, gorduras e aditivos químicos. Por isso, favorecem a ocorrência de deficiências nutricionais, doenças do coração, diabetes, colesterol e obesidade”, explica a médica.

Mas a inclusão de uma maior quantidade de alimentos in natura, mesmo priorizando alimentos regionais, representa um desafio na implementação dessa nova configuração, sendo preciso levar em consideração questões relacionadas ao custo, à logística de implementação, ao desperdício e à segurança alimentar, segundo a Dra. Marcella. “Os alimentos frescos in natura são aqueles obtidos de plantas ou animais que chegam ao consumidor sem terem passado por nenhum tipo de processamento. Por esse motivo, são muito mais suscetíveis à degradação e à contaminação, podendo aumentar o desperdício e a prevalência de intoxicações alimentares”, alerta a especialista.

Políticas públicas

Então, a médica afirma que, além das mudanças na configuração da cesta, é necessária a implementação de políticas públicas focadas na educação alimentar para superar esses obstáculos. “Oferecer à população em vulnerabilidade alimentar produtos perecíveis, que dependem de armazenamento apropriado e técnicas de preparo específicas, sem investimento efetivo em políticas públicas de educação alimentar, me parece uma medida fadada ao insucesso”, ressalta. “Porém, a intenção parece boa. E é importante começar por algum ponto para conscientizar a população de todos os estratos da sociedade sobre a importância dos bons hábitos alimentares”, completa a Dra. Marcella Garcez.

Fonte: *Dra. Marcella Garcez: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo. Além disso, é membro da Sociedade Brasileira de Medicina Estética e da Sociedade Brasileira para o Estudo do Envelhecimento. Instagram: @dra.marcellagarcez