Com o intuito de facilitar a compreensão daquilo que comemos e bebemos, o Brasil foi um dos primeiros países a tornar obrigatória a rotulagem nutricional. Desse modo, a conscientização alimentar é incentivada, pois é possível entender o que consumimos e optarmos por opções mais saudáveis, prevenindo, assim, o excesso de peso, consumo de transgênicos e alergias.

Entretanto, apesar da intenção de conscientização, um revés foi identificado: a distância da população dos termos utilizados em tabelas nutricionais as tornavam de difícil compreensão para grande parte da população.

Os valores nutricionais e qualidades dos alimentos, não fazendo parte do uso cotidiano, tornaram-se palavras desconhecidas em rótulos até mesmo bastante conhecidos. Situação que não somente limita o saber sobre o que se come, mas possibilita a manipulação e desinformação. Aspectos cruciais da escolha alimentar que devem ser claros.

Reconhecendo tais limitações e a necessidade de resolução das mesmas, a Anvisa desenvolveu uma “Análise de Impacto Regulatório sobre Rotulagem Nutricional”, na qual foram definidos seis objetivos:

a) Aperfeiçoar a visibilidade e legibilidade das informações nutricionais; b) Facilitar a compreensão dos principais atributos nutricionais dos alimentos; c) Reduzir as situações que geram engano quanto à composição nutricional; d) Facilitar a comparação nutricional entre os alimentos; e) Aprimorar a precisão dos valores nutricionais declarados; e f) Ampliar a abrangência das informações nutricionais. (ANVISA, 2018, p.64)

Considerando a situação, um levantamento apontou que mais de quarenta países ao longo dos últimos anos adotaram um modelo de rotulagem frontal que complementa a tabela nutricional na parte posterior do produto. Tal modelo, considerando as limitações anteriores, visa comunicar aos consumidores os principais conteúdos nutricionais dos alimentos de forma clara, de fácil entendimento e mais visível, incentivando a possibilidade de escolha consciente.

A rotulagem frontal pretende ser semi-interpretativa, usando da imagem de semáforos e alertas para identificar as principais qualidades e deficiências do alimento. Além da proposta, ainda há o intuito de adequar a linguagem para cada população, cultura e padrões alimentares regionais.

A proposta tem sido voluntariamente adotada, porém a tendência é que a rotulação semi-interpretativa frontal seja obrigatória, uma vez que há baixa adesão empresarial.

Em relação aos componentes da rotulagem nutricional frontal, os mais utilizados são os açúcares, gorduras saturadas e o sódio:

Uma das principais mudanças propostas foi a adoção de um modelo de rotulagem nutricional frontal que: (a) seja obrigatório, complementar à tabela nutricional e informe o alto teor de açúcares adicionados, gorduras saturadas e sódio, de forma simples, ostensiva, compreensível; (b) utilize cores, símbolos e descritores qualitativos ao invés do %VD; (c) esteja baseado na declaração por 100 g ou ml do alimento, de forma a garantir sua consistência com a tabela nutricional; (d) utilize o modelo de perfil nutricional elaborado pela Agência para classificação do alto teor de açúcares adicionados (≥ 10 g para sólidos e ≥ 5 g para líquidos), gorduras saturadas (≥ 4 g para sólidos e ≥ 2 g para líquidos) e sódio (≥ 400 mg para sólidos e ≥ 200 mg para líquidos). (ANVISA, 2018, p.18)

Além da ideia de rotulagem frontal, também foram propostas algumas alterações para a tabela nutricional convencional como a alteração para 100 g ou mL da base de declaração dos valores nutricionais, e a retirada de gorduras trans e inclusão de açúcares totais e adicionados, além de outras sugestões.

A ideia de melhorar as informações nutricionais contidas nos alimentos possui até uma Petição do IDEC (Instituto Brasileiro de Defesa ao Consumidor), intitulada de “Rotulagem Adequada Já!”, onde uma série de propostas são formuladas em relação a melhoria e acessibilidade das tabelas nutricionais.

Com o incentivo de diversas partes, a implementação da rotulagem nutricional frontal ainda é apenas uma ideia. Antes de ser aprovada e efetivada necessita de maiores estudos sobre como ser integralmente compreensível, pressão popular e interesse empresarial. Vale ressaltar que sua implementação melhoraria a experiência de consumo dos alimentos, conscientizando e simplificando o processo de escolha de alimentos pela população.
* Délis Wolter Hansen é Engenharia Química  e Suporte Técnico do Freitag Laboratórios