Ter um filho que torce o nariz para alimentos saudáveis é sempre motivo de preocupação para os pais. Você sabe que a criança precisa comer bem, mas na hora da refeição a experiência é completamente diferente do ideal. O que poderia se tornar um momento feliz em família se transforma na hora mais tensa do dia. Mas algumas estratégias podem ser adotadas para começar a reverter esse quadro e melhorar a relação da criança com a comida.
Nós adultos entendemos a importância da alimentação saudável. Sabemos o que significa colesterol ou triglicérides elevados, compreendemos os riscos da diabetes. Temos noção de que não podemos comer fast food todo dia porque é prejudicial à saúde. A criança, porém, não faz essas mesmas correlações. Ela pode entender o que significa comer de forma saudável, reconhecer as comidas boas e as ruins nas atividades de educação alimentar, mas ela não vai se convencer a comer brócolis apenas porque “faz bem”. Ela vai comer se achar que é gostoso.
É nesse pilar que se sustenta uma das estratégias para ampliar a variedade alimentar de uma criança: ensiná-la que comidas saudáveis são gostosas, e não apenas necessárias. Um dos erros mais cometidos ao lidar com uma criança mais seletiva é dizer a ela que ela “precisa comer verdinhos”, que aquilo é uma obrigação. Tudo que é obrigatório na cabeça dela passa a se tornar chato. E aí que se cria uma barreira ainda maior entre a criança e os legumes e verduras.
Sim, comer é essencial e é importante que a criança entenda que é tão importante quanto dormir, tomar banho. Mas, na mente infantil, se ela está comendo um prato de macarrão sem molho, ela já está fazendo a parte dela. Além disso, a hora de sentar para comer pode ser vista como tão chata quanto a hora de dormir ou de tomar banho – porque é o momento em que ela tem que parar de brincar. Por que, então, ela iria gostar da refeição?
O que precisa mudar é a percepção que a criança cria sobre os alimentos e a melhor maneira de fazer isso é conduzir experiências positivas com a comida.
Leve seu filho ao mercado ou à feira – Não precisa ser todas as vezes, mas procure levar seu filho junto para comprar as hortaliças e os demais alimentos e o envolva nessa tarefa. Se ele já for alfabetizado, você pode pedir que ele ajude a elaborar a lista de compras e vá riscando os itens conforme vocês os colocam no carrinho. Se for pequeno, você pode estipular que ele escolha dois ou três legumes, frutas ou verduras para a família comer na semana. Faça-o se sentir parte importante daquele momento, como se ele fosse responsável por ajudar nas refeições da família. Muitas vezes acabamos não envolvendo a criança no cardápio da casa e ela só tem contato com a comida quando se senta à mesa. Participar do antes pode ajudar a trazer mais intimidade.
Dê tarefas ao seu filho no pré-preparo – Pode parecer loucura colocar a criança todo dia para ajudar na cozinha, ou ficar a sensação de que vai atrapalhar mais que ajudar, mas isso é só no início. Você pode pedir ajuda da criança para lavar as folhas, os legumes. Ele pode montar a salada do dia ou apertar botões do mixer ou liquidificador, se for bem pequeno. Os maiores podem ajudar a cortar alguns ingredientes ou até se aventurar no preparo de itens como arroz, bolinhos salgados. O bom dessa experiência é que ela ensina que a comida não surge pronta no prato. Alguém dedica tempo ao preparo. Além disso, sentir os aromas da comida começando a ficar pronta pode aguçar o apetite.
Procure receitas que seu filho possa fazer sozinho – Muitas crianças adoram colocar a mão na massa e algumas receitas podem ser quase que inteiramente preparadas pelo seu filho. É mais fácil a criança ter vontade de provar algo que ela mesma preparou e viu o que foi colocado do que algo que surgiu pronto.
Varie o cardápio – Dia desses, durante uma consultoria, uma mãe me contou que a grande dificuldade dela é mudar a cara das refeições. Ela acaba fazendo quase sempre a mesma coisa. Isso é mais comum do que se imagina, porque quando temos um filho que torce o nariz para os alimentos, nossa tendência é perder o estímulo de cozinhar coisas novas. Temos que agir ao contrário.
Procurar forças para colocar empolgação de volta na comida do dia a dia e variar. Já pensou se todo dia você visse o mesmo prato de salada com alface e tomate? O legal é se de vez em quando a verdura viesse refogada, ou misturada ao arroz num delicioso risoto colorido, ou mesmo integrada a um bolinho. Há milhares de sites e livros com receitas que podem ser rápidas e práticas.
Sair da mesmice é uma boa estratégia para mostrar para o seu filho que comer saudável é gostoso. Um dos pratos que eu adoro ensinar para mães de crianças mais seletivas é o strogonoff de frango com berinjela – você inclui um legume de difícil aceitação num prato que as crianças costumam amar. E dá certo!
Traga a diversão para a mesa – Não estou falando de criar um circo na hora de comer, pelo contrário. Distrações como tablets e televisão não são indicadas. O que eu quero dizer é tornar a hora da refeição mais prazerosa. Faça as refeições à mesa e em família, conversando sobre o dia. Se faltar assunto, você pode pedir para a criança contar algo diferente que ela aprendeu na escola ou um passeio que ela queira fazer no fim de semana. Programem juntos as próximas atividades da família. O fundamental é tirar o foco de ficar brigando para a criança comer.
Saia da caixinha – Determinados alimentos podem sair do contexto da mesa e as frutas são uma opção para sair da caixinha. O ideal é comer à mesa? Na maioria dos casos, sim. Mas não há problema em mudar um pouco a rotina e propor uma refeição diferente para tirar a tensão. Você pode estender uma toalha e fazer um piquenique na sala ou num parque próximo. Enquanto a criança brinca no quarto, você pode colocar um potinho ao lado dela com algumas frutas picadas. Sem ninguém para ficar pressionando ou obrigando, pode ser que ela coma.
O mais importante é NÃO FORCE! Respeite o tempo de aceitação do seu filho e entenda que temos que dar um passo de cada vez. As mudanças não acontecem da noite para o dia.