Proteína sob medida: quanto realmente precisamos desse nutriente?
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Com a onda de alimentos proteicos, de barrinhas a refrigerantes, é preciso cautela para evitar excessos que prejudiquem a saúde.

Entre as prateleiras do mercado, não é preciso procurar muito para encontrar uma enorme variedade de alimentos “proteicos”. Assim como, pães, iogurtes, barrinhas, sucos, biscoitos, pipoca, macarrão e até refrigerantes. A lista cresce a cada mês com lançamentos da indústria que, muitas vezes, respondem mais à lógica do consumo do que à real demanda nutricional da população.
Claro, do ponto de vista fisiológico, a proteína é essencial: participa da construção e regeneração tecidual, da síntese hormonal e imunológica, e da preservação da massa magra. No entanto, é fundamental diferenciar necessidades reais de um apelo de marketing.
A crítica não é contra a proteína em si, afinal, ela é indispensável para pele, cabelo, ossos, músculos. Mas sim contra o uso indiscriminado, muitas vezes sem qualquer objetivo terapêutico. Nem toda pessoa precisa de 2g/kg/dia, como se propaga nas redes. Mesmo para quem busca hipertrofia, quantidades entre 1,2 e 1,6 g/kg/dia já demonstram eficácia segundo metanálises recentes.
 Além disso, é importante considerar a dificuldade prática de se atingir as metas proteicas mesmo dentro da faixa recomendada (0,8 a 2,0 g/kg/dia). Para a maioria da população, especialmente idosos, mulheres e pessoas com apetite reduzido, alcançar a meta proteica com alimentação exclusiva pode ser desafiador.
Estudos recentes apontam que um número significativo de adultos e idosos consome abaixo do ideal, o que aumenta o risco de perda muscular e funcional com o envelhecimento. Isso justifica, em alguns casos, a recomendação de suplementação.
 A recomendação diária mínima para adultos saudáveis é de 0,8 g/kg de peso corporal, mas em diversos contextos clínicos, como envelhecimento, sarcopenia, doenças crônicas e processos de reabilitação, as diretrizes sugerem 1,2 a 2,0 g/kg/dia.
Atingir essa quantidade com alimentos in natura exige planejamento e, muitas vezes, múltiplas refeições com fontes proteicas distribuídas ao longo do dia. Embora uma dieta variada com carne, peixe, ovos, laticínios, leguminosas e cereais integrais possa suprir as necessidades, a alta demanda proteica em alguns contextos torna os suplementos uma ferramenta válida e segura, quando bem indicados.
Para idosos, o consumo adequado de proteínas é ainda mais crítico. A perda de massa muscular, chamada sarcopenia, impacta diretamente a mobilidade, autonomia e qualidade de vida. Nesses casos, a suplementação com whey protein pode ser fundamental, principalmente diante de dificuldades de mastigação, deglutição ou redução do apetite.
Mas é importante tomar cuidado com o excesso proteico, especialmente acima de 2 g/kg/dia sem indicação, que pode sobrecarregar os rins em pessoas suscetíveis e, a longo prazo, estar associado a risco cardiovascular e renal, como demonstram estudos recentes de revisão. E mais: muitos desses produtos contêm açúcares, gorduras e aditivos que comprometem seu perfil nutricional.
Mais do que seguir modismos, o ideal é buscar orientação individualizada. A proteína é importante, mas saúde não se resume a um único nutriente. A indicação médica e o equilíbrio alimentar são a chave para bons resultados.

 

Fonte: Dra. Marcella Garcez – Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo. Além disso, é membro da Sociedade Brasileira de Medicina Estética e da Sociedade Brasileira para o Estudo do Envelhecimento. Instagram: @dra.marcellagarcez