Alguns ajustes alimentares podem melhorar a saúde reprodutiva de homens e mulheres, mas às vezes até pequenas mudanças podem produzir bons efeitos. Recentemente, um estudo publicado em maio na revista Nutrients revisou a literatura disponível. Assim, o estudo concluiu, com as evidências existentes, que reduzir o consumo de bebidas adoçadas com açúcar pode melhorar a saúde do esperma.
“Muitas pesquisas já demonstraram que o consumo regular de bebidas adoçadas com açúcar está associado a efeitos adversos na saúde reprodutiva masculina. Principalmente por meio de desequilíbrios hormonais e danos oxidativos”, explica o Dr. Rodrigo Rosa, médico especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime.
“Embora o termo ‘bebidas adoçadas com açúcar’ remeta automaticamente aos refrigerantes, além deles existem outros tipos de bebidas. Assim como: as bebidas em pó, as energéticas, as esportivas, os sucos de frutas adoçados industrializados. Além das bebidas lácteas saborizadas, os chás e cafés prontos e as limonadas comerciais”, diz o médico
A revisão atual incluiu estudos publicados entre 2000 e 2024 e avaliou todas as pesquisas relevantes identificadas em diversas bases de dados. As bebidas adoçadas com açúcar são a maior fonte de açúcar adicionado na dieta.
“Por exemplo, uma porção padrão de 355 ml de refrigerante contém cerca de 35,0 a 37,5g de açúcar e 140 a 150 calorias. Essas bebidas normalmente contêm altas concentrações de adoçantes calóricos, como xarope de milho rico em frutose (HFCS), sacarose ou sucos de frutas concentrados. Importante deixar claro que esse tipo de frutose tem mais concentração do que as bebidas com frutas. Além disso, vem sem as vitaminas, minerais, fibras e fitoquímicos presentes nesses alimentos naturais. O consumo de frutas é altamente benéfico para a saúde do organismo e para a reprodução humana”, diz o Dr. Rodrigo.
O trabalho mostra um aumento de quase 23% no consumo global de bebidas adoçadas com açúcar entre 1990 e 2018. Esse consumo é maior entre homens do que entre mulheres. Em paralelo, o médico lembra que vários estudos documentaram um declínio significativo na saúde do esperma. Assim, com concentrações médias de espermatozoides diminuindo em mais de 50% entre 1973 e 2018.
“Diversas condições podem afetar a reprodução masculina. Assim, incluindo redução na contagem total de espermatozoides, volume de sêmen ejaculado. Além de motilidade e viabilidade do esperma e morfologia anormal do esperma”, diz o Dr. Rodrigo Rosa.
O médico destaca que essas bebidas podem causar obesidade. Assim, interrompendo o eixo hipotálamo-hipófise-gonadal, causando respostas prejudicadas de gonadotrofina, o que interfere na qualidade dos espermatozoides.
“Além disso, o alto consumo de açúcar desencadeia diversas condições metabólicas, como resistência à insulina, níveis elevados de triglicerídeos e envelhecimento acelerado. Numerosos estudos estabeleceram uma relação dose-resposta, o que sugere que o consumo elevado dessas bebidas agrava os resultados adversos na saúde reprodutiva”, comenta o Dr. Rodrigo.
“Essas bebidas reduzem também os níveis hormonais, incluindo a inibina-B, que está associada a uma menor contagem de espermatozoides. Disrupções hormonais por meio da redução da relação inibina-B/hormônio folicular estimulante (FSH) podem ser os mecanismos subjacentes que correlacionam o impacto do aumento do estresse oxidativo e da disfunção metabólica na saúde dos espermatozoides”, diz o médico.
As bebidas adoçadas com açúcar também induzem estresse oxidativo ao gerar espécies reativas de oxigênio (EROs), que danificam o DNA e prejudicam a capacidade de fertilização dos espermatozoides, segundo o estudo.
“Elas também danificam a membrana espermática por meio da peroxidação lipídica. Além de promover a disfunção mitocondrial, o que reduz a motilidade e a viabilidade dos espermatozoides. Esses danos têm avaliação por meio de ensaios moleculares. O estresse oxidativo crônico também causa envelhecimento celular acelerado”, diz o especialista.
O estudo mostra que o alto consumo de bebidas açucaradas, ou seja, o consumo regular de mais de sete bebidas por semana, equivalente a 245 a 262,5g de açúcar, está associado a uma redução significativa na concentração e motilidade dos espermatozoides.
“Homens que consumiram mais de sete bebidas açucaradas por semana apresentaram uma redução de 22% na concentração de espermatozoides em comparação com os não consumidores. Da mesma forma, a maior ingestão de bebidas adoçadas com açúcar foi inversamente associada ao volume de sêmen; em comparação com os que não bebiam, os homens que bebiam mais de sete bebidas adoçadas com açúcar por semana geraram um volume de sêmen 6% menor”, diz o médico.
Estudos anteriores também revelaram que o maior consumo dessas bebidas foi negativamente associado à motilidade espermática; no entanto, o impacto foi considerado relativamente modesto e não estatisticamente significativo.
O trabalho mostra que a suplementação com antioxidantes, como coenzima Q10, vitaminas C e E e glutationa, demonstrou efeitos positivos na mitigação dos danos celulares induzidos pelo estresse oxidativo.
“No entanto, a revisão observa que, embora a suplementação possa ajudar em certos casos, o uso excessivo pode, paradoxalmente, prejudicar a função espermática. Assim, sendo recomendada uma dieta balanceada e rica em antioxidantes como uma estratégia de longo prazo mais segura e sustentável para melhorar a saúde reprodutiva masculina. Além disso, claro, deve-se reduzir e, se possível, evitar o consumo dessas bebidas”, completa o médico.
Por fim, o médico lembra que modificações no estilo de vida e medidas de saúde pública voltadas para a redução do consumo de bebidas adoçadas com açúcar são altamente necessárias.
“Além disso, a manutenção de um IMC saudável e a melhoria da saúde metabólica geral são recomendadas como parte de uma abordagem abrangente para apoiar a função reprodutiva masculina”, finaliza.
Fonte: *Dr. Rodrigo Rosa: Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo, e do Mater Lab, laboratório de Reprodução Humana. Membro da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana. Instagram: @dr.rodrigorosa